sábado, 29 de setembro de 2007

Rimando irreverência com inteligência

"Enquanto você é criança, ainda é uma esperança em que os românticos como eu podem acreditar..."

É a típica banda que ainda mantém o nome pela marca que ele representa. Assim é o Ultraje a Rigor, banda quase bissexta, que sempre é apresentada nas televisões quando volta aos palcos, apesar de nunca ter acabado de fato. Da formação original, resta apenas o vocalista e guitarra-base Roger (Rocha Moreira), mais um injustiçado desse covil de rótulos que gere a cultura popular brasileira.

Seu nome é associado ao escracho, e tão só. Desonesto com seu talento. Algumas excentricidades do músico também colaboram para o tratamento que recebe: Roger só faz shows pelo Brasil e onde possa chegar de ônibus, devido ao seu pânico de avião, e posou pelado, com a mão no bolso (piadinha infame e inevitável), na G Magazine, revista voltada ao público gay, em 1999.

Seus rocks produzidos, em 24 anos de carreira, são sempre carregados de humor, porém não se trata do riso pelo riso. Roger, e conseqüentemente o Ultraje, é muito mais que isso. É uma gargalhada da sua e da minha cara, dos nossos gostos, do machista, é verdadeiro e franco com nossa ridícula condição, enquanto seres humanos e, ainda mais, brasileiros.

Pelado, que se tornou melodia de fácil encontro em qualquer montagem de áudio-visual relacionada à nudez, sendo inclusive tema da novela global Brega & Chique, de 1987, traz versos de rara perspicácia: “Indecente é você ter que ficar despido de cultura / Dai não tem jeito quando a coisa fica dura / Sem roupa, sem saúde, sem casa, tudo é tão imoral / A barriga pelada é que é a vergonha nacional”.




Na canção de mesma temática Sexo!, encontramos também um bom traçado sobre a relação da nudez com o moralismo, personificado na ocasião na figura da ditadura, ensaiando a sua retirada: “Bom! Vá lá, vai ver que é pelas crianças / Mas quem essa besta pensa que é pra decidir? / Depois, aprendem por que nem eu aprendi / Tão distorcido que é uma sorte eu não ser pervertido”. Nos versos que se seguem, há também o claro ideal de Roger, deixando em nítida exposição o que para si é a configuração da real perversão: “Voltei pra sala, vou ver o jornal / Quem sabe me deixam ver a situação geral / E é eleição, é inflação, corrupção e como tem ladrão / E assassino e terrorista e a guerra espacial / Socorro!... Eu quero Sexo!”. Não mudou muito hoje em dia, né?

Melodicamente, o legado do Ultraje também é de enorme valia. Um rock de compassos simples e solos clássicos de guitarra, hoje ao cargo do virtuoso Sergio Serra. Completam a formação atual o baterista Bacalhau e o baixista Mingau.

Esse último, ex-integrante das bandas Ratos de Porão, Inocentes e 365, participa com Roger do projeto paralelo A Fabulosa Orquestra de Rock and Roll. A proposta musical é a seguinte: No estilo das grandes bandas de rock da década de 1960, com acompanhamento de quarteto de voz e instrumentos de jazz, como piano e metais, executar antigos sons que foram esquecidos pelo tempo, enquanto Rock around de clock e Tutti frutti ganharam a dimensão que possuem.

Voltando ao Ultraje e encerrando o assunto por enquanto, após o sucesso com a gravação do Acústico MTV, a banda segue em turnê by bus desde então, ainda sem previsões para novas gravações. Enquanto isso, os fãs aguardam o que Roger tem a esculhambar.

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Roger também toca flauta, e fez o Conservatório Dramático e Musical, o Conservatório Musical Brooklin Paulista, o Clam e a Fundação das Artes de São Caetano do Sul. Chegou a cursar Arquitetura na Universidade Mackenzie, porém não completou os estudos e se mudou para a Califórnia, ficando por lá por cerca de um ano e meio. Formou-se em Inglês pela Universidade de Michigan.

Poucos sabem, porém o músico é notável por seu QI elevadíssimo. É membro da Mensa Internacional, instituição mais tradicional e respeitada do mundo a reunir os indivíduos mais bem dotados intelectualmente da face da Terra. Seus membros devem, obrigatoriamente, estar entre os 2% do topo de qualquer teste de inteligência realizado no mundo.

Roger é um desses e, claro, são-paulino fanático, tendo por costume executar o hino do clube em seus shows.

Um comentário:

Anônimo disse...

muito bom!